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O Espaço é Seu

O PL caiu, mas pessoas LGBTQIA+ precisam continuar subindo

05.05.21

Nas últimas semanas, agências e marcas se mobilizaram em função do PL504/2020, que tramitava na Assembleia Legislativa de São Paulo e visava proibir algumas representações LGBTQIA+ em publicidade.

Graças a toda pressão, ele foi arquivado.

Mas precisamos lembrar que a legislação é uma forma de regulamentação social e que as leis brasileiras, majoritariamente, têm sido criadas e aprovadas por uma hegemonia masculina, heterossexual, cisgênera e branca, que ocupa a maior parte das cadeiras políticas no país.

Precisamos, acima de tudo, nos atentar ao fato poderoso de que a deputada que articulou as principais ações contra o PL504/2020, Erica Malunguinho, é uma mulher trans e negra.

Entender isso é fundamental na hora de pensarmos não apenas nas barreiras sociais estabelecidas para pessoas LGBTQIA+, no Brasil, mas como isso se dá no ambiente atual das empresas que criam, produzem e aprovam as narrativas de propaganda.

Apesar de não existirem dados sobre o número de pessoas LGBTQIA+ no mercado, acredito não estar errado afirmar que a maioria das cadeiras de tomada de decisão na publicidade não são ocupadas pelas existências diversas que compõem essa sigla.

Assim como consideramos que o PL504/2020 se colocou como uma ameaça às representações diversas nas narrativas de propaganda, precisamos admitir que outras barreiras “invisíveis” são impostas dentro das estruturas da publicidade.

Afirmo isso como uma pessoa LGBTQIA+ e negra que faz parte dessas estruturas e já ouviu, sentiu e passou por algumas opressões dentro delas, antes de ocupar uma cadeira de liderança.

Considero, sim, que já avançamos muito no que se refere à diversidade dentro do mercado, mas enquanto não existir um número equiparado de pessoas diversas tomando decisões e garantindo demandas que abranjam não apenas o acesso de grupos sociais menos favorecidos nas agências, produtoras e marcas, mas também sua permanência e ascensão, sempre vai faltar algo.

Em meio a tantas ausências, nós, pessoas LGBTQIA+, precisamos poder falar sobre nossas próprias demandas e nos articular sem pedir licença. Precisamos olhar para o lado e, principalmente, para o topo, confortáveis de que nos sentimos amparados e enxergamos possibilidades no outro.

Porque, mesmo com a PL 504/2020 derrubada, continuamos sendo o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo, principalmente pessoas trans.

Não existe outra forma tão efetiva de garantirmos nossa existência plena enquanto LGBTQIA+, que não a ocupação de espaços e a permanência e ascensão neles. Seja na política ou dentro das agências, produtoras e marcas.

Heitor Caetano - Diretor Criativo da Surreal Hotel Arts

Leia mais sobre o PL 504/2020 aqui.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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