arrow_backVoltar

SXSW 2024

O ‘creative generalist’ se destacará no trabalho pós-IA

13.03.24

Em certos momentos, o SXSW 2024 se assemelha a uma sessão de psicoterapia e filosofia. Habituado a frequentar o evento, o futurista Ian Beacraft, CEO da Signal And Cipher, fez uma apresentação focada no futuro do trabalho. E trouxe conceitos para provocar reflexões e preparar as pessoas para um mundo transformado pela IA, tecnologia que muitos temem por considerá-la uma ameaça a seus empregos.

No painel “Billion Dollar Teams: The Future of an AI Powered Workforce”, Beacraft não titubeou quanto a esse receio: “não vou dizer que a IA não vai tirar empregos. Ela vai”, o que pode ter acelerado o nível de ansiedade de algumas pessoas. Mas, segundo o futurista, as posições ameaçadas são aquelas com atribuições específicas, que constam em diplomas e que podem ser automatizadas. Isso pode até lembrar o trabalho de muita gente hoje, porém Beacraft afirmou também que precisamos repensar o conceito de trabalho.

O avanço da IA levará as empresas a buscar pessoas com habilidades combinadas e se adequem a projetos que explorem esses distintos talentos. O futurista se refere ao que chamou de creative generalists.

Beacraft abriu a sessão observando que estamos vivendo numa realidade midiática sintética. Muito do que estamos vendo, ouvindo, experimentando são coisas que nos chegam por meio de máquinas. E, felizmente, grande parte disso é impulsionado por humanos.

Mas tudo vai acelerar muito. De forma exponencial. E logo estaremos falando de IA - o Santo Graal da tecnologia - como falamos de digital nos dias atuais.

O problema: seres humanos não foram “construídos” para ver as coisas de modo exponencial. Somos seres humanos lineares. “Pensar e ser exponencial não faz parte da nossa natureza”, disse Beacraft. O exemplo que deu para explicar melhor essa ideia foi contar passos. Se dermos 30 passos para qualquer direção, temos uma boa noção de onde vamos parar. Mas isso se refere a passos lineares. E se forem 30 passos exponencialmente? Onde vamos parar? “Algumas pessoas diriam que em uma sala diferente. Talvez em outro edifício ou cidade. Mas 30 passos dados exponencialmente significariam o pouso na lua”.

O problema de novo: a tecnologia se move de modo exponencial, mas o progresso das organizações se dá por logaritmos (operação inversa da exponencial). Nós e as empresas estamos em outro ritmo. Diante disso, promover um ciclo de “business transformation” não será suficiente, pois, tão logo ele termine, a empresa já estará para trás de novo. Essa terá de ser uma tarefa constante.

O futurista citou uma frase de Marshal McLuhan para dar dimensão do desafio que as companhias enfrentam: a nova mídia sempre imita a velha. Quando nos deparamos com uma nova tecnologia, a tendência é tratá-la com os frameworks do presente. Queremos utilizar tais avanços com os conceitos, as diretrizes e as estruturas que temos, em vez de tentar descobrir como de fato precisamos lidar com eles.

A conclusão: “precisamos de um sistema operacional de negócios completamente novo para sermos capazes de acomodar as mudanças proporcionadas pela IA”. Ou dito de outra forma: necessitamos mudar nossa visão sobre o trabalho, se quisermos continuar empregados. “Acredito que nossos sistemas de trabalho não funcionam para a nova era”, acrescentou. Basicamente, o futuro vai depender de como vemos os empregos e as funções que desempenhamos. E daí entra o conceito de generalista criativo.

O nome já diz o perfil desse profissional. Ele não é apenas um especialista em uma área. O que Beacraft salientou é que não é o diploma que fará a diferença. Com a IA, habilidades que não podíamos apresentar para a empresa vão poder ser exploradas. Com as ferramentas disponíveis atualmente, podemos fazer artes e vídeos. “Poderei levar para a mesa as habilidades que tinha e que serão melhoradas com a IA. Elas vão performar em um nível que poderão agregar valor ao meu trabalho na empresa. Não poderão dizer ‘não faça porque você não é bom nisso’. E isso será possível com praticamente todo o conjunto de habilidades”, afirmou.

O generalista criativo, na visão de Beacraft, tem domínio de uma área específica e tem conhecimento de vários assuntos. Mais importante do que isso, ele tem uma grande variedade de interesses e hobbies. “É isso que ajuda a fazer conexões entre as coisas em que é especialista e as coisas nas quais ele é apenas bom”, explicou.

Uma habilidade que será valorizada é a capacidade de gerir os recursos disponíveis, inclusive os tecnológicos. Os times serão montados reunindo-se as habilidades humanas e as IA, que vão interagir. Isso implicará numa redução de equipes, já que atividades serão automatizadas. Será possível ter alta produtividade com times menores do que os atuais.

Uma corporação gigantesca, com milhares de empregados, não se enquadra nesse cenário, comentou o futurista. Porém, o mercado poderá estar repleto de empreendimentos tocados por uma pessoa. Os “solopreneurs” (empreendedores solos) terão à mão centenas de bots para ajudá-los. Com isso, podemos entender uma das frases ditas por Beacraft no painel: o conceito que temos hoje de emprego pode desaparecer, mas o trabalho não.

A cobertura do SXSW 2024 pelo Clubeonline é um oferecimento exclusivo da Corazon Filmes (@corazonfilmes). 

SXSW 2024

/