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Festival do Clube 2016

"Você é mulher. Por que não quer ir para o atendimento?"

12.09.16

Numericamente, as mulheres são maioria da população, mas alguns espaços sociais e de trabalho ainda são majoritariamente masculinos, reflexo de uma sociedade machista. Ciência, tecnologia e matemática são exemplos de áreas ocupadas principalmente por homens. Nas agências de publicidade, a presença do sexo feminino predomina no atendimento e planejamento. Na área de criação, no entanto, há poucas profissionais mulheres compondo as equipes e muito menos ainda em cargos de liderança.

A mesa “Por que somos tão poucas na criação das agências?”, realizada no Festival do Clube de Criação, buscou discutir essa realidade sob o ponto de vista de algumas mulheres criativas, sejam elas líderes premiadas, como a mediadora Joanna Monteiro, CCO da FCB Brasil, ou dando seus primeiros passos na carreira publicitária, como a assistente de arte Gabriella Marcatto, da J.Walter Thompson. Também participaram do debate Juliana Constantino, creative strategist do Instagram; Laura Esteves, diretora de criação da Y&R; e Andreia Barion, diretora de criação da WMcCann.

O problema é mais profundo, não é simplesmente a quantidade de mulheres na criação. A questão começa lá atrás. Será que não tem algo já nas universidades que apresenta a criação como uma coisa desinteressante para as mulheres?”, questionou Joanna para abrir as discussões.

Os modelos são muito masculinos, os professores são homens, há poucas mulheres. Este ano, até houve mais criativas premiadas em Cannes, mas o crescimento foi muito pequeno, muito insignificante”, pontuou Juliana.

Gabriella, que iniciou recentemente sua carreira em publicidade e há pouco tempo frequentava a universidade como estudante, concordou que os professores são quase todos do sexo masculino e os palestrantes e quem fala sobre criação para estudante são homens - que muitas vezes apresentam inclusive cases machistas em sala de aula. “Tive que buscar referências femininas, mulheres no poder, mulheres criativas”, relatou.

Num exemplo de que o estereótipo de gênero ainda é gritante no mercado de comunicação, a assistente de arte contou que, certa vez, quando disse que gostaria de ser criativa, um de seus professores comentou: “Você não quer ser atendimento, planejamento? Você é mulher, é bonita, por que você não quer ir para a área de atendimento?

Laura lembrou de outro aspecto da carreira dos criativos, que é o fato de que o departamento tem uma demanda muito grande, com longas jornadas de trabalho, o que, segundo ela, “prejudica homens e mulheres”. “Não existe isso de sair da agência, ir para casa e parar de trabalhar. Você chega em casa e começa outro trabalho e é cada vez mais difícil para as mulheres toparem isso, porque, em geral, a mulher ainda fica mais responsável pelas crianças, pela casa”, opinou.

Andreia, que deixou a publicidade por um período e foi estudar Psicologia, conta que saiu da agência para “cuidar das filhas”. “Decidi mudar de profissão para ter mais controle do meu tempo. Essa é uma escolha muito pessoal. Têm muitas mulheres que continuam trabalhando e são ótimas mães. Eu decidi que criar um filho e criar uma úlcera eram duas coisas incompatíveis para mim”, contou.

As debatedoras destacaram que o ideal é que "o talento se sobreponha ao gênero". "Uma preocupação como dirigente é que você quer ter os melhores talentos em sua equipe, o importante é que você consiga chegar até eles, independentemente de gênero. Uma equipe ‘mais misturada’, reflete no trabalho e a discussão fica mais rica. É bacana ter representantes de diversas opiniões, independentemente se mulher vai trabalhar com um job de carro e um homem estará numa criação para absorvente”, ponderou Joanna.

Globalmente, o mercado já está exigindo mais a presença feminina na área de criação das agências. Um exemplo é a gigante multinacional de fabricação de alimentos General Mills, que está realizando processo de concorrência nos EUA no qual está exigindo que as participantes tenham pelo menos 50% de mulheres e 20% de negros dentro do departamento criativo (leia aqui).

Leia sobre o painel "Inclusão de gênero e diversidade na propaganda", aqui.

Confira a programação completa do Festivalaqui.

Valéria Campos

Serviço:

Festival do Clube de Criação 2016

Quando: Setembro, 10, 11 e 12 - 2016
Local: Cinemateca Brasileira - São Paulo – Brasil
Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino

Hosted by: Clube de Criação
www.clubedecriacao.com.br
55 11 3030-9322

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#FestivaldoClube2016

Festival do Clube 2016

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