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Consciência Negra 4

Com Flávia dos Prazeres (TV Cultura)

23.11.22

Clubeonline procurou profissionais do mercado para analisarem o que mudou na indústria da comunicação em relação à inclusão, ao combate à invisibilidade e ao racismo. Por conta do Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, diversas empresas e marcas procuram promover ações e reflexões sobre o tema. Mas o quanto de fato avançamos?

Ao longo desta semana, vamos publicar respostas a quatro perguntas que fizemos para esta série. Agora, a entrevista é com Flávia dos Prazeres, atriz e apresentadora do Café Filosófico, da TV Cultura.

Leia anteriores com Renata Hilario, strategy manager da Budweiser (Ambev), aqui, com Vinicius Chagas, head of conversations design da Dentsu, aquiAna Carla Carneiro, sócia-fundadora do Estúdio Nina, aqui.

Clubeonline – Na sua opinião, há mudanças de fato perceptíveis acontecendo no mercado da Comunicação, no Brasil, no que tange à inclusão, combate à invisibilidade e ao racismo?

Flávia dos Prazeres – Por intermédio das mídias sociais, o acesso à informação aconteceu de forma mais democrática. Tudo se popularizou: o acesso à cultura, aos meios de comunicação, possibilitando que mais e mais pessoas tivessem conhecimento sobre questões já desenvolvidas anteriormente, mas que anteriormente ficavam no âmbito somente de quem tinha acesso às universidades. Hoje, todos e todes podem opinar, podem compartilhar conhecimento. A popularização da comunicação é um grande ganho e se torna cada vez mais expressiva por intermédio das redes sociais. É possível ver novos corpos em protagonismo e novas narrativas em construção.
Também é possível constatar que muitos CEO's de empresas, muitas iniciativas das produções audiovisuais, publicitárias, finalmente se interessaram em transformar as mensagens que por muito tempo passavam. Para essa mudança de conduta, a ESG nas empresas foi essencial, pois facilitou o entendimento e a ação das mesmas para a promoção de igualdade em todos os setores. É um movimento que ainda está em andamento, mas já apresenta avanços para a diversidade. Para além da inclusão, o que também avançou foi o lucro dessas companhias, pois se mais pessoas se sentem representadas, elas também consomem mais, é possível ter mudanças significativas com esta mentalidade.

Clubeonline – Você participa ou conhece iniciativas com foco no antirracismo cujo trabalho venha fazendo a diferença no nosso mercado?

Flávia – A emissora de televisão TV Cultura, para mim, é uma grande entusiasta, pois há mais de 60 anos produz cultura e acesso à informação. Sua grade tem programas de TV voltados a todos os públicos e todos os temas. O programa “Estação Livre”, cuja a apresentadora é a Cris Guterres, recebe profissionais de todas as áreas e que abordam com propriedade temas necessários para que a nossa sociedade entenda que o racismo ainda é um câncer a ser combatido e desnaturalizado. E para além dessa atitude de questionar o racismo, a emissora promove encontros em que pessoas pretas - profissionais muito bem preparados e atuantes no mercado de trabalho - têm a liberdade de abordar qualquer assunto.

Clubeonline – Com relação ao Brasil em 2023, quais suas expectativas sob o prisma da inclusão, igualdade social e diversidade?

Flávia – 2023 tem uma grande missão de continuar naturalizando as nossas diferenças, no sentido de agregar para caber todo mundo, sem apertos, cortes/mortes. Que possa haver pulsão de vida em todas essas mudanças urgentes, que não podem ser vistas como temporárias, mas permanentes, no que se entende sobre a nossa própria educação. E toda essa mudança só será possível com mais ações afirmativas, onde todos e todes consigam usufruir de um país mais justo, com cidadãos engajados em mudar a história, reconstruir um novo percurso que seja livre de exclusões e violência. Que questionar antigas atitudes vire um hábito poderoso para a naturalização das nossas diferenças, pois somos múltiplos. Que 2023 seja um ano generoso para todas as existências.

Clubeonline – Poderia indicar um bom livro, ligado à questão racial, aos internautas que nos acompanham?

Flávia – Todos precisam ler o livro "Pele Negra Máscaras Brancas", do filósofo e pensador Frantz Fanon, que é um retrato de como as estruturas racistas operam, e como as relações se desenvolvem através do prisma psicossocial com o racismo como recorte. Nele, Fanon aprofunda temas que estão enraizados na nossa sociedade pela perspectiva preta e nos oferece análises de como e por que a branquitude faz o que faz, por que retroalimenta a estrutura racista no mundo.

Consciência Negra 4

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