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Festival do Clube 2016

Tavo Ponce: vivendo de fazer arte. Às vezes, de graça

19.09.16

O espanhol Tavo Ponce, do Tavo Motion Studio, já trabalhou em uma agência pontocom, também viveu como freelancer, atuou em uma startup e hoje administra seu estúdio de animação e projetos digitais. Por ter essas diferentes experiências, formou uma visão de negócios um tanto sui generis.  Palestrante do painel “Art Direction in 25fpsrt”, no Festival do Clube 2016, ele apresentou as três regras que direcionam sua vida profissional: liberdade criativa, bom tempo para cumprir a tarefa e um belo budget. Se o projeto tiver ao menos uma dessas premissas, eu aceito. O ideal é ter as três juntas, mas nunca consegui isso”, disse, arrancando risos da plateia.

Tavo ressaltou que, para alguém como ele, que vive de fazer animações, storyboards e styleframes, os feedbacks têm seus momentos. “Mostro para o cliente styleframes e incluo animatic. O storyboard é para mim”, contou. Seu objetivo é tentar minimizar o trabalho. Com humor, ele disse que sempre existe um “point of no return”.  Mas, mesmo assim, é possível arrancar leite de pedra. Em uma ação criada para o canal Nitro, por exemplo, Tavo desenvolveu toda uma sequência com um carro, uma pessoa correndo e uma moto deslizando pelo asfalto. Então, o cliente pediu para tirar a moto porque não queria passar uma imagem de direção perigosa. Isso seria um “point of no return” – o cliente já havia visto o styleframe e a recusa da moto surgiu depois de inclusão dos efeitos de animação.

Aparentemente, então, não haveria o que salvasse o trabalho. A solução foi substituir a moto por um efeito de água que se encerrava em um hidrante que estourava, justificando assim o “caminho” da água. O trabalho, feito em 2011, é normalmente utilizado por ele para mostrar um projeto em que houve muitos feedbacks e muitas mudanças, demonstrando que é preciso aprender a lidar com os obstáculos que surgem no meio dos processos.

O estúdio é especialista em fazer 3D. É um trabalho complexo e deveria ser bem pago. Mas Tavo já aceitou jobs por valores mínimos e até mesmo de graça. Isso porque ele acredita que um bom projeto atrai outro e isso pode compensar a concessão feita anteriormente. A meta, portanto, é expor mais o trabalho. Foi o que ele fez com uma peça para um festival dedicado a diretores de arte em Miami, o ADC  Festival of Art & Craft. Em seguida, foi chamado pelo canal AXN para fazer uma série de vinhetas. E recebeu bem por isso.

Aos diretores de arte, Tavo deixou alguns conselhos:

- Seja flexível – “Faça trabalho para todo tipo de cliente. Quanto mais aberto for, mais trabalhos distintos

- Assuma novos desafios – “Dê você mesmo o passo para aprender algo

- Oxigene o cérebro – “Fiquei muito tempo como freelancer. É importante ter disciplina para ter tempo livre e assim arejar a mente

- Aprenda a 'copiar' – “Se você vê algo de que gosta, pegue as referências. Pode ser a iluminação de uma fotografia

- Trabalhe de graça – “Muita gente não vai concordar com isso. Mas nem sempre vão te pagar por cada job com dinheiro

- Pense mais – “Nem sempre é preciso um grande budget para fazer um grande projeto

- Tenha projetos pessoais

- A marca não importa – “Se o projeto está bem executado, está ótimo. Mesmo que a marca não seja bem conhecida

- Mostre apenas bons projetos

- Aprenda a delegar

- Transforme seus fornecedores em parte do seu time

- Estabeleça deadlines reais

- Explore novas direções

- Assuma suas responsabilidades

- Seja transparente com o budget (esse recado vai para o cliente)

- Lembre-se: você não é o diretor de arte (outro recado para o cliente)

O bate-papo foi muito mais abrangente e você poderá conferir na íntegra assim que forem liberados os vídeos das palestras deste ano. Aguarde.

Lena Castellón

Festival do Clube 2016

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