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Festival do Clube 2019

Inclusão: muito mais que preenchimento de cotas

22.09.19

O cenário parece mesmo favorável às mulheres na indústria da publicidade. O gênero tornou-se pré-requisito para empresas que precisam contratar e querem ficar “bem na fita”. No entanto, algumas questões precisam ser olhadas com mais profundidade e cautela quando o assunto é inclusão, inclusive de negros, portadores de deficiência, pessoas mais velhas, LGBTs, entre outros. E foram trazidas para a mesa “Fomos contratadas, e aí?”, do Festival do Clube de Criação.

Hoje ‘pega bem’ contratar mulher porque o mundo sente culpa pelas diferenças, mas ao olharmos para o gênero pelo viés da inclusão, estamos desmerecendo a capacidade”, provoca a Head da Creative Shop do Facebook Brasil, Fernanda Guimarães. O mercado se esquece de quão incrível pode ser para as empresas e para a sociedade ter representatividade em todos os ambientes.

Disposta a redirecionar seu olhar sempre que reflete sobre o tema, Fernanda lembra uma colocação do ator Lázaro Ramos sobre os negros serem tratados como diversidade. “Em um país onde a maioria é negra, ser negro deveria ser a normalidade”.

A Avon é um ótimo exemplo de como é necessário ter representatividade. “Entro na grande maioria dos lares brasileiros e é essencial ter gente de todos os recortes da população trabalhando para minha marca, para poder falar com todos os públicos. E temos que cobrar isso das agências”, diz Danielle Bibas, Vice President of Brands, Communication and Corporate Culture da Avon. Para ela, seria muito melhor se o oposto do privilégio não fosse a culpa, mas a responsabilidade.

Iza Herklotz, Diretora Executiva de Recursos Humanos do Grupo DAN, garante que as novas gerações já cobram mais posturas inclusivas e responsáveis das empresas. “Os benefícios tradicionais de um ambiente de trabalho já não satisfazem como antes”, ressalta. Outra postura que também não tem combinado mais com as empresas da nova economia, é a autoritária. Bater na mesa, esbravejar, hierarquizar está perdendo espaço para perfis mais colaborativos, que assumem suas vulnerabilidades.

Mediadora do debate e participante ativa do Grupo Mulheres do Brasil, Gabriela Hunnicutt, Founder and Chief Executive Officer da Bold, lembrou que não basta contratar, se você não tiver políticas claras de inclusão que gerem igualdade. Ela mesma lembrou de um fato que aconteceu recentemente em sua empresa, quando abriu uma vaga para uma mulher voltando da licença-maternidade. Um dos benefícios era garantir que a nova funcionária tivesse menos tempo na Bold para passar mais tempo com o bebê. “Mas eu e o RH nos questionamos sobre como as outras pessoas que não teriam o benefício iriam reagir e se não estaríamos tirando delas o direito de igualdade”, contou.

Fernanda Guimarães passou por situação semelhante. Depois de ter sido beneficiada para trabalhar meio período em casa, prometeu ao chefe que replicaria o benefício quando tivesse sua própria equipe. E assim o fez, oferecendo que as mães voltassem da licença trabalhando meio período e os pais ficassem o primeiro mês ajudando as mães em casa. Mas as pessoas que não tinham filhos ou não queriam ter se incomodaram por não terem o mesmo benefício.

De fato, se olharmos mais de perto, algumas pessoas podem ter outros motivos para voltar cedo pra casa, como cuidar de um irmão doente, ou dos pais idosos. O que é fato é que essas políticas de inclusão, na prática ajudam a abrir caminho para outras flexibilizações. E isso pode ser muito bom, “desde que a empresa reconheça seu limite, começando pelas maiores urgências ou pautas que consigam endereçar rapidamente, já que é impossível atender as necessidades de todas as pessoas”, alerta a RH Iza Herklotz.

Jéssica Gomes, Creative Content Lead da Sallve, viveu algumas experiências que a permitem trazer outro olhar para a questão das necessidades individuais. “Nunca morei em Belo Horizonte, onde eu trabalhava. Demorava duas horas no transporte público para chegar na agência, enquanto outras pessoas iam andando. Se tivessem olhado para a minha questão e tentado resolver de alguma forma, isso não ia mudar de lugar a casa de quem morava ao lado, nem pioraria a vida dessa pessoa. Só melhoraria a minha”, diz. E claro que o bem estar de um reflete também no dos outros em um mesmo ambiente.

Hoje ela não está mais em agência. “Saí do mercado para questionar mais em outros espaços e é importante para mim e para outras mulheres que eu seja uma mulher negra ditando a criação de uma nova marca de cosméticos”, salienta.

Para Jéssica, é preciso repensar até o que consideramos talento."Se você considera talento uma pasta bem produzida no SquareSpace, que é pago em dólar, e exige conhecimentos que na periferia não se ensina, você está enganado". E provoca mais. "A indústria da criatividade não reconhece o potencial, nem dá oportunidades para populações que precisam ser criativas para sobreviver, ou mulheres capazes de reinventar suas vidas após a maternidade para dar conta de tudo".

De fato, quando falamos de inclusão é preciso ter cuidado para que as pessoas incluídas não sejam apenas um número preenchendo uma cota.

Rita Durigan

Confira aqui a programação completa do Festival do Clube de Criação 2019. 





SERVIÇO


Festival do Clube de Criação


Setembro, 21, 22 e 23 - 2019 - sábado, domingo e segunda-feira


Local: Cinemateca Brasileira - São Paulo - Brasil


Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino


Ingressos à venda (aqui). Garanta já o seu.


Hosted by: Clube de Criação


55 11 3034-3021


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Teremos serviço de shuttle para quem quiser estacionar no Hotel Pullman Ibirapuera


Horário: das 08h30 às 22h30


Trajeto: Pullman / Cinemateca / Pullman


Abertura dos portões e do credenciamento: sábado, domingo e segunda às 9h









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