Cannes Lions 2020/2021

Papo com os Jurados – Cannes Lions 2020 / 2021

Marcelo Bicudo, CEO da Superunion, nosso jurado em Design Lions.

Clubeonline - Este ano, o Festival acumula trabalhos de duas edições. Isso pode interferir na qualidade do julgamento?

Marcelo Bicudo - Acredito que o fato de julgarmos dois anos, 2020 e 2021, não interfere na qualidade do julgamento, pois temos mais tempo para olhar todas as peças. É muito interessante poder ver dois anos e entender como o contexto afeta as peças inscritas. Há um volume bem grande de peças que discutem o impacto do design e da comunicação no mundo de hoje e como estas disciplinas podem mudar realidades. Tem sido interessante participar das discussões com o júri, pois debatemos muito a função de cada trabalho em nossa sociedade, o impacto para as pessoas e para as marcas, bem como o ponto de vista de cada um, de acordo com seu background cultural. A tarefa de reduzir o número de peças, que é grande, para um shortlist, demanda muita discussão. Isso é muito legal, pois valoriza ainda mais os trabalhos.

Clubeonline - Quais as expectativas para sua categoria, tanto em termos globais quanto em termos de Brasil?

Marcelo - Acredito que estamos selecionando bons trabalhos para a categoria de design. Questões como a qualidade do craft, linguagem, storytelling, interdisciplinaridade e impacto são pontos fundamentais nessa categoria. Há várias subcategorias que vão do branding, passando pelo digital, embalagem, design em espaços, eventos, social, entre outras. Assim, os melhores trabalhos são aqueles adequados à categoria e à subcategoria. Esses pontos têm sido observados. O Brasil tem bons trabalhos inscritos e espero que estejam também no shortlist, mas isso sempre depende da avaliação de cada jurado, que é independente.

Clubeonline - Você acredita que o resultado de Cannes vá refletir as mudanças que a pandemia causou no mundo e, consequentemente, na comunicação? E quanto a pautas como racismo e inclusão, elas devem ganhar ainda mais destaque nesta edição?

Marcelo - Há vários trabalhos que envolvem a covid de alguma forma e tanto definem um ponto de vista das marcas sobre tudo o que aconteceu e acontece, como provocam uma discussão sobre as áreas de atuação de cada marca. É bem interessante ver como o digital tem influenciado muito os processos de transformação das marcas, mas o mais importante, creio eu, é que estamos vendo muitas marcas fazerem a extensão de seus portfólios por meio de seus propósitos. Nesse sentido, os trabalhos mais interessantes são contextuais e respondem a todas as transformações que estão acontecendo no mundo. Seja discutindo questões raciais, de fluidez de gênero e desigualdade social, entre outros pontos. Acredito que há uma ampliação de consciência e isso se reflete também nas discussões que temos. Há que se discutir a função social do design e seu impacto para os stakeholders.

Clubeonline – Do que você vai sentir mais falta: do aeroporto de Paris; do rosé no Martinez; do macaron na La Durée; do jantar no “Pelourin”; das filas no tapete vermelho para, quem sabe, subir ao palco; ou das festas?

Marcelo - Ahhh, sentirei falta de tudo isso e mais um pouco. Claro que sentirei falta de estar lá, pela viagem em si, mas também porque tem cheiro, tem sabor, tem toda uma atmosfera que te envolve. Acredito que o ponto alto desses eventos são as trocas entre culturas e entre pessoas. Há muita informação circulando e se aprende muito ao estar lá. Não apenas pelas palestras e eventos, mas porque se esbarra nas pessoas e as trocas meio que acontecem quase de forma química. Poder discutir com o júri e poder tocar nas peças também é algo importante em design. Mas preciso dizer também que a experiência, apesar de outra, tem sido bem positiva pelo digital. Temos conseguido nos conectar bastante. Cannes fez um bom trabalho nesse sentido e tenho certeza de que o Festival será um sucesso.

Leia anterior, com Luciana Rodrigues, CEO e Presidente da Grey Brasil, nossa jurada em Brand Experience & Activation, aqui.

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