Cannes Lions 2020/2021

Cannes Lions 2020/2021

Papo com os Jurados: Sergio Gordilho, Copresidente e CCO da Africa. Nosso jurado em Creative eCommerce Lions.

Clubeonline: Este ano, o Festival acumula trabalhos de duas edições. Isso pode interferir na qualidade do julgamento?

Sergio Gordilho: Acredito que sim. O acúmulo dos dois anos trouxe a necessidade de se ter um júri preliminar. Isso é complicado não pela qualidade dos profissionais desse júri, mas pelo descompromisso deles com o resultado final. A chance de se ter um desalinhamento de critérios entre esses dois júris, o preliminar e o presencial, é enorme. E isso vai causar injustiças. Principalmente para as peças menos conhecidas. Pois, na dúvida e na falta de alinhamento, o que já foi premiado em outros festivais e, por isso, já é conhecido, ganha. O que vai contra o legado de Cannes, o palco da estreia das grandes ideias ainda desconhecidas. A imprevisibilidade de quem irá ganhar os leões mais altos, que sempre fez parte da história e importância do festival como um criador de tendências e não um seguidor delas, acho que está comprometida nesta edição.

Clubeonline: Quais expectativas para sua categoria, tanto em termos globais quanto em termos de Brasil?

Gordilho: O comércio eletrônico com certeza foi a categoria que mais se desenvolveu nesses dois últimos anos. Resultado da necessidade de mudança da nossa relação com as marcas. O que antes era físico passou a ser totalmente digital. Essa evolução criou uma facilidade que fez com que deixássemos de ir fazer compras para passarmos a estar comprando o tempo todo e para estarmos nos relacionando com as marcas todo o tempo. O que antes era apenas uma transação comercial no ambiente digital passou a ser um ato contínuo de se criar vínculos e de se estabelecer relações emocionais da marca com o consumidor. Só que do ponto de vista criativo, se necessidades idênticas muitas vezes já traziam soluções coincidentes, imagina um mundo inteiro buscando respostas para o mesmo problema? Por isso, não tenho dúvidas de que irei julgar muito do mesmo. Muita repetição de fórmulas e formatos. Mas isso não é uma crítica. Só uma constatação, um retrato do momento que vivemos.

Clubeonline: Você acredita que o resultado de Cannes irá refletir as mudanças que a pandemia causou no mundo e, consequentemente, na comunicação? E quanto a pautas como racismo e a inclusão, que também ganharam maior destaque nos últimos tempos, elas devem ser percebidas com maior ênfase?

Gordilho: Talvez eu leve a fé muito a sério, mas acredito que a pandemia, devido a todos os seus horrores, nos deixou mais humanos. De alguma maneira, nos aproximou, nos tornou mais solidários e menos solitários. Olhamos mais pro próximo, pro lado. Fomos obrigados a furar nossas bolhas e a desfocar do nosso próprio umbigo. Pela primeira vez, vimos o mundo todo e todo mundo sofrendo igual, perdendo igual, buscando igual. E isso polarizou diferenças exatamente por tornar visíveis pautas que estavam invisíveis. Cannes sempre foi o retrato da nossa sociedade. O que vai ser premiado vai passar por aí.

Clubeonline: Do que você vai sentir mais falta, este ano, por não estar na Riviera: do aeroporto de Paris; do Rosé no Martinez; do macaron na LaDurée; do jantar no “Pelourin”; das filas no tapete vermelho pra, quem sabe, subir no palco; ou das festas?

Gordilho: Vou sentir falta daquelas caminhadas pela Croisette, aquelas conversas em pé quando dividíamos opiniões, trocávamos experiências e visões do mundo. Cannes presencial sempre foi o epicentro das grandes discussões. Salas de zoom pasteurizam comportamentos. Superficializam opiniões. Ninguém é autêntico quando é vigiado. Nem no BBB, muito menos na vida. Isso vai fazer falta. Mas é o que temos. Pior seria mais um ano sem Cannes.

Leia anterior com Hugo Veiga, Global CCO da AKQA, nosso jurado em Entertainment Lions for Music, aqui.

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